Na verdade é uma paralelo entre o ensinar humanizado e o ensinar computadorizado.
Qual deles superará as dificuldades e as agruras da louca vida que estamos enfrentando?
Qual a verdadeira função das máquinas que na verdade vieram para facilitar a vida dos humanos?
Compartilho com todos e desafio a uma reflexão sobre nosso papel na educação.
Ainda que eu acredite que o caminho é o carinho e o respeito.
Retrocesso
O visitante estranhou porque, quando o levaram para conhecer a sala de aula do futuro, não haviaoutra era acolchoada. Uma falava com as crianças com sua voz metálica e mostrava figuras,
números e cenas coloridas no seu visor, e a outra ficava quieta num canto. Uma comandava a sala,
tinha resposta para tudo e centralizava toda a atenção dos alunos, que pareciam conviver muito bem com a sua presença dinâmica, a outra dava a impressão de estar esquecida ali, como uma
experiência errada.
O visitante acompanhou, fascinado, uma aula como ela seria num futuro em que o computador
tivesse substituído o professor. O entendimento entre a máquina e as crianças era perfeito. A
máquina falava com clareza e estava programada de acordo com métodos pedagógicos
cientificamente testados durante anos. Quando não entendiam qualquer coisa as crianças sabiam
exatamente que botões apertar para que a professora-robô repetisse a lição ou, em rápidos
segundos, a reformulasse, para melhor compreensão. (As crianças do futuro já nascerão sabendo
que botões apertar.)
— Fantástico! — comentou o visitante.
— Não é? — concordou o técnico, sorrindo com satisfação.
Foi quando uma das crianças, errando o botão, prendeu o dedo no teclado da professora-robô. Nada grave. O teclado tinha sido cientificamente preparado para não oferecer qualquer risco aos dedos infantis. Mesmo assim, doeu, e a criança começou a chorar. Ao captar o som do choro nos seus sensores, a professora-robô desligou-se automaticamente. Exatamente ao mesmo tempo, o outro robô acendeu-se automaticamente. Dirigiu-se para a criança que chorava e a pegou no colo com os braços de imitação, embalando-a no seu colo acolchoado e dizendo palavras de carinho e conforto numa voz parecida com a do outro robô, só que bem menos metálica. Passada a crise, a criança, consolada e restabelecida, foi colocada no chão e retomou seu lugar entre as outras. A segunda professora-robô voltou para o seu canto e se desligou enquanto a primeira voltou à vida e à aula.
— Fantástico! — repetiu o visitante.
— Não é? — concordou o técnico, ainda mais satisfeito.
— Mas me diga uma coisa... — começou a dizer o visitante.
— Sim?
— Se entendi bem, o segundo robô só existe para fazer a parte mais, digamos, maternal do trabalho pedagógico, enquanto o primeiro faz a parte técnica.
— Exatamente.
— Não seria mais prático — sugeriu o visitante — reunir as duas funções num mesmo robô?
Imediatamente o visitante viu que tinha dito uma bobagem. O técnico sorriu com condescendência.
— Isso — explicou — seria um retrocesso.
— Por quê?
— Estaríamos de volta ao ser humano.
E o técnico sacudiu a cabeça, desanimado. Decididamente, o visitante não entendia de futuro.
(Luís Fernando Veríssimo. In Nova Escola. São Paulo. Abril, out. 1990. p. 19.)
Um comentário:
Qual a relacão que fazes com o nosso curso? Ajudamos que os professores sejam mais humanos e mais bem preparados pedagogicamente? Acreditas que seria viável a separacão em dois seres distinto: um razão e o outro emocão? Francamente quero te ouvir porque fiquei com medo da colocacão sem saber o que pensas dela. Um abracão Bea
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