
O que estamos fazendo enquanto pais e educadores com nossos filhos e alunos?
Mesmo que alguns digam que não fazem tudo o que o artigo relata, mas com certeza muitas das coisas já o fizeram sem maldade e claro sem com a intenção de prejudicar as crianças.
Mas temos que pensar que de alguma maneira estamos contribuindo com o que está acontecendo, muitas vezes achamos "bonitinho" quando eles imitam adultos, quando eles gostam das mesmas coisas que os pais, quando na verdade ainda estão em fase de infância e não são miniaturas.
O Mágico de Oz perdeu o encanto. Alice anda sozinha no país das maravilhas. A boneca Emília está carcomida pelas traças e a Cuca não espanta mais ninguém.
A infância que outrora aprendeu a valorizar os personagens, ambientes fabulosos e metáforas imaginativas da literatura, está cada vez mais envolvida pelas diretrizes do universo corporativo dos adultos. As crianças não têm mais tempo para viver a condição que sua idade lhes coloca, devido à ação devastatória dos próprios pais, das escolas, e das exigências da sociedade capitalista, que inculcam na infância determinadas práticas capazes de transformá-la numa fase da vida em que se gestam pequenos predadores sociais.
Crianças nascidas nos estratos economicamente privilegiados deixaram de ser crianças para se tornarem projetos futuros de denominação e exercitarem suas práticas de competitividade com o impulso da família e do sistema educacional. Há crianças que não sabem mais o que é brincar ou deixar-se tomar pelo enlevo do lúdico e da imaginação, pois estão absorvidas pelo excesso de preocupação dos pais em relação ao sucesso futuro de seus filhos. Essas crianças não apenas se amoldam a uma estrutura que lhes cobra níveis humanos de excelência e eficiência, como também devolvem para o mundo à sua volta os preceitos éticos com que são alimentadas. Muitas delas, são depositárias das experiências fracassadas dos pais.
Não é incomum vermos crianças que espelham a rotina dos pais, sendo obrigadas, além de ir à escola, a participar de uma infinita carga de atividades para compensar a permanente defasagem que os pais julgam que esta recaindo sobre elas. Isso, talvez, explique o que muitos especialistas já estão cansados de afirmar, quando se referem aos transtornos de ordem psicológica e de aprendizagem cada vez mais freqüente no universo infantil.
A infância precisa voltar a ser infância. Voluntária ou involuntariamente, ao abrirem mão de uma formação mais humanizada para seus filhos, os pais estão ajudando a constituir sujeitos supérfluos, banais e previsíveis, rendidos à dissimulação do universo adulto, cujo preceito mais evidente é garantir às crianças um futuro promissor, burlando os contextos e as práticas próprias da infância em prol de uma imbecil competitividade ensinada em best-sellers como Pai Rico, Pai Pobre, cartilhas escritas por malandros que as escolas, por exemplo, insistem em sustentar, pagando-lhes altos cachês por palestras proféticas destinadas aos pais de alunos e aos professores.
Já é uma realidade crianças de sete anos de idade ganharem um laptop para administrar as tarefas da semana, que incluem aulas de equitação com cavalos-marinhos, técnica de uso da espada samurai e leitura em braile com os dedos dos pés. Futuramente, veremos se essa abominável forma de educar gerou uma sociedade melhor ou se nos legou pessoas e profissionais que, um dia, foram crianças-frankstein.
(CLÓVIS DA ROLT - Professor, mestrando em Ciências Sociais pela UnisinosZERO-HORA/SEGUNDA/25/JUNHO/2007 )
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